Monday 29 October 2007

Diário de um cão




1ª semana:
- Hoje completei uma semana de vida. Que alegria ter chegado a este mundo!

1º mês:
- Minha mãe cuida muito bem de mim. É uma mãe exemplar!

2 meses:
- Hoje separaram-me da minha mãe. Ela estava muito inquieta e, com o seu olhar, disse-me adeus. Espero que a minha nova "família humana " cuide tão bem de mim como ela o fez.

4 meses:
- Cresci rápido; tudo me chama a atenção. Há várias crianças na casa e para mim são como "irmãozinhos". Somos muito brincalhões, eles puxam-me o rabo e eu mordo-os na brincadeira.

5 meses:
- Hoje chatearam-se comigo. A minha dona incomodou-se porque fiz "pipi" dentro de casa. Mas nunca me haviam ensinado onde deveria fazê-lo. Além do que, durmo no hall de entrada. Não deu para aguentar.


8 meses:
- Sou um cão feliz! Tenho o calor de um lar; sinto-me tão seguro, tão protegido... Acho que a minha família humana ama-me e me consente muitas coisas. O pátio é todinho para mim e, às vezes, excedo-me, cavando na terra como os meus antepassados, os lobos quando escondiam a comida. Nunca me educam.Deve ser correcto tudo o que faço!

12 meses:
- Hoje completo um ano. Sou um cão adulto. Os meus donos dizem que cresci mais do que eles esperavam. Que orgulho devem ter de mim!!

13 meses:
- Hoje acorrentaram-me e fico quase sem poder movimentar-me até onde tem um raio de sol ou quando quero alguma sombra. Dizem que me vão observar e que sou um ingrato. Não compreendo nada do que está a acontecer.

15 meses:
- Já nada é igual... Moro na varanda. Sinto-me muito só. A minha família já não me quer! Às vezes esquecem que tenho fome e sede. Quando chove, não tenho tecto que me abrigue...

16 meses:
- Hoje desceram-me da varanda. Estou certo de que minha família me perdoou. Eu fiquei tão contente que pulava com gosto. Meu rabo parecia um ventilador. Além disso, vão levar-me a passear em sua companhia!Direcionámo-nos para a rodovia e, de repente, pararam o automóvel.Abriram a porta e eu desci feliz, pensando que passaríamos o nosso dia no campo. Não compreendo porque fecharam a porta e se foram. "Ouçam, Esperem!" lati... esqueceram-se de mim... Corri atrás do carro com todas as minhas forças. A minha angústia crescia ao perceber que quase perdia o fôlego e eles não paravam. Esqueceram-se de mim

17 meses:
- Procurei em vão achar o caminho de volta ao lar. Estou e sinto-me perdido! No meu caminho existem pessoas de bom coração que me olham com tristeza e me dão algum alimento. Eu agradeço-lhes com o meu olhar, desde o fundo da minha alma. Eu gostaria que me adoptassem: seria leal como ninguém! Mas somente dizem: "pobre cãozinho, deve-se ter perdido."

18 meses:
- Um dia destes, passei perto de uma escola e vi muitas crianças e jovens como os meus "irmãozinhos". Aproximei-me e um grupo deles, rindo, jogou-me uma chuva de pedras "para ver quem tinha melhor pontaria". Uma dessas pedras feriu-me o olho e desde então, não vejo nada desse olho.

19 meses:
- Parece mentira! Quando estava mais bonito, tinham compaixão de mim. Já estou muito fraco; o meu aspecto mudou. Perdi o meu olho e as pessoas mostram-me a vassoura quando pretendo deitar-me numa pequena sombra.

20 meses:
- Quase não me posso mover! Hoje, ao tentar atravessar a rua por onde passam os carros, um atropelou-se! Eu estava no lugar seguro chamado "calçada", mas nunca esquecerei o olhar de satisfação do condutor, que até se vangloriou por acertar-me. Quisera que me tivesse morto! Mas só me deslocou as cadeiras! A dor é terrível!
As minhas patas traseiras não me obedecem e com dificuldade arrastei-me até a relva, na beira do caminho.. Faz dez dias que estou embaixo do sol, da chuva, do frio, sem comer. Já não posso mexer-me! A dor é insuportável! Sinto-me muito mal; fiquei num lugar húmido e parece que até o meu pêlo está caindo...
Algumas pessoas passam e nem me vêem; outras dizem: "não chegues perto". Já estou quase inconsciente; mas alguma força estranha me faz abrir os olhos. A doçura da sua voz me fez reagir. "Pobre cãozinho, olha como te deixaram", dizia... junto com ela estava um senhor de avental branco. Começou a tocar-me e disse: "Sinto muito senhora, mas este cão já não tem remédio". É melhor que pare de sofrer".
A gentil dama, com as lágrimas a cairem pelo rosto, concordou. Como pude, mexi o rabo e olhei-a, agradecendo-lhe que me ajudasse a descansar. Somente senti a picada da injecção e dormi para sempre, pensando em porque tive que nascer se ninguém me queria...


Infelizmente estas situações ainda acontecem. O que não entendo é como podem haver pessoas capazes de o fazer. Como é possível que alguém faça tanto mal a um animal... que a única coisa que pede é que lhe dêem carinho.
Aconteceu-me uma vez, quando ia a sair da escola onde lecciono, ver um gato pequenino, à chuva e cheio de sangue. Não consegui pasar por ele e não fazer nada. Fui à loja de animais que encontrei perto da escola mas eles não tinham veterinário. No entanto, deram-me um pano, que eu levei para tapar o gato. Mesmo assim achei que não tinha feito nada. Resolvi levá-lo a um veterinário. Infelizmente, já não houve nada que se pudesse fazer. O veterinário disse-me exactamente as mesmas palavras. Chorei como se o gato estivesse comigo há anos. Tinha sido atropelado e ninguém foi capaz de agarrar nele e tentar fazer alguma coisa... No momento que eu o vi... já era tarde, já estava a sofrer muito. Pelo menos deixou de sofrer.

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